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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A ARTE RUPESTRE NA PARAÍBA

UM ESTUDO SOBRE AS INSCRIÇÕES RUPESTRES DO MUNICÍPIO DE CONDADO

Almair de Albuquerque Fernandes

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A arte rupestre é considerada o único vestígio deixado de forma consciente e voluntariamente pelos homens pré-históricos. Ela representa os mais expressivos registros do comportamento humano sobre as relações com o meio natural. No Brasil, especialmente na Paraíba, apesar da grande quantidade de material de arte rupestre localizado, o estudo sobre o assunto ainda é restrito.
A arqueológa paraibana Ruth Trindade de Almeida, em seu livro ‘A Arte rupestre nos cariris velhos’ (1979), afirma que “todo vestígio antigo deixado pelo homem na sua passagem pela terra, constitui um sítio arqueológico. As pinturas e gravuras rupestres - a denominada arte rupestre - são sítios arqueológicos” (1).
A arte rupestre consiste em representações gráficas elaboradas em suportes rochosos, presente em diversos ambientes freqüentados pelas culturas pré-cabralinas. No entanto, é importante que se registre que os sítios de arte rupestre se configuram como monumentos singulares e de valor incontestável, pois retratam fragmentos do cotidiano humano.
Na literatura sobre arqueologia brasileira o termo arte rupestre engloba tanto as pinturas como as gravuras. As gravuras consistem em representações elaboradas através do picoteamento ou incisão no suporte rochoso.
As técnicas de pinturas detectadas através de análises revelam o uso de fricção de um mineral sobre o suporte rochoso, usos da madeira com função de pincel, uso da própria mão e até mesmo elaborada através de sopros do pigmento sobre a rocha.
A gravura rupestre, executada por nossos primitivos ‘artistas’ consiste na execução de desenhos por meio de sulcos na pedra bruta. Além da pintura e da gravura, também existe na arte rupestre a técnica do baixo-relevo.

A ARTE RUPESTRE NO BRASIL

Itacoatiaras, pedras lavradas, pedras pintadas, gravuras, pinturas, letreiros, grifos, litógrafos, petróglifos, pictografias, litografias e hieróglifos brasileiros, são termos empregados pelos vários autores para designar as inscrições rupestres existentes no Brasil.
Em seu trabalho ‘As inscrições rupestres de Pedra Lavrada-PB’, o professor e pesquisador norte-rio-grandense José Ozildo dos Santos, afirma que “a primeira referência sobre a arte rupestre no Brasil, nos foi dada por Ambrósio Fernandes Brandão em seu livro ‘Diálogos das Gran­dezas do Brasil’, escrito em 1618. Trata-se de pinturas e gravuras situadas em terras paraibanas, cujas informações foram fornecidas ao autor por Feliciano Coelho de Carvalho, capitão-mor da Capitania da Paraíba, que visitara no dia 29 de dezembro de 1598 a locali­dade denominada ‘Arasoagi­pe’, onde foram encontradas as referidas gravuras e pintu­ras que, presume-se, tratar-se hoje do município de Araçagi e do rio do mesmo nome” (2).
Quando o homem civilizado foi adentrando o interior do território brasileiro, foi encontrando os primeiros registros rupestres. Este fato chamou-lhe a atenção. E, mesmo perguntando aos indígenas da época, não encontrou respostas para suas observações e, de certa forma, influenciado pelas narrativas nativas, passou também a relacionar esses registros ao misticismo.
No século XVII, o padre Francisco Teles de Menezes registrou 274 sítios arqueológicos com gravações e pinturas no Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Pernambuco, interpretando-os como mapas de tesouros.
Por outro lado, vários escritores antigos citaram as gravuras e pinturas existentes ao longo do territó­rio brasileiro como sendo tes­temunho de passadas civilizações, deixando claro que aqueles registros rupestres não foram produzidos pelos indígenas encontrados pelo elemento luso descobridor, no século XVI.
Nessa mesma linha de pensamento, a arqueológa Ruth Trindade de Almeida afirma que “as gravuras e pinturas brasileiras e, em particular, as pa­raibanas, foram executadas pelos antigos habitantes da região - os indígenas - o que não quer dizer que tenham sido executados, obrigatoriamente, pela população que os portugueses encontraram no Brasil no século XVI. Podem ter sido obra de grupos indígenas extintos ou que não mais habitavam o local à época do descobrimento” (3).
O elemento indígena encontrado pelo luso descobridor no século XVI não conhecia e nem fabricava instrumentos de ferro. Desta forma, ele não teria condições de trabalhar a rocha dura e nela fazer inúmeros desenhos, ricos em detalhes como os encontrados na Pedra do Ingá, considerada um monumento arqueológico nacional. É mais aceitável que tais monumentos sejam obras de grupos indígenas extintos.
 Através das gravuras e das pinturas, os primitivos habitantes do Nordeste brasileiro deixaram as marcas de sua presença, como meio de mostrar os vestígios de seu cotidiano. Esses vestígios constituem “parte do sistema de comunicação do qual se preservavam apenas as expressões gráficas que resistiram ao tempo (4).
É importante que se registre, que “ao longo do tempo, a visão sobre a arte rupestre variou de acordo com a visão de mundo dos diversos pesquisadores. Primeiramente pensou-se que a arte rupestre teria sido produzida como um simples prazer estético. Depois ela passou a ser explicada como fruto da magia, com o objetivo de intervir na vida real, como, por exemplo, a Magia da Caça ou a Magia da Fertilidade. Outros autores a viam como uma forma de escrita associada a uma civilização megalítica de Atlântida ou como lápides mortuárias onde constava o nome e a genealogia do indígena” (5).
As pinturas e gravuras rupestres encontradas no Brasil estão situadas em locais comodamente atingíveis ou em lugares alcantilados de acesso difícil. Em alguns desses sítios arqueológicos são vistas figurações primitivas e em outros, desenhos artísticos elaborados em grandes painéis no interior de grutas ou a céu aberto.
Nesses painéis, é comum encontra figuras de variadas formas geométricas planas, ora evocando seres humanos (antropomorfos) ou partes do corpo; mãos e órgãos sexuais masculinos (símbolos fálicos), ora plantas (fitomorfos) e animais (zoomorfos). 
A arte rupestre no século XX, foi entendida como um sistema de comunicação. Do ponto de vista da semiologia, a arte rupestre passou a ser considerada um código simbólico, que deveria ser decifrado, como um texto. No entanto, os estudiosos que se debruçam sobre o problema da autoria das inscrições rupestres se dividem dois grupos: os ‘alienigenistas’ e os autoctonistas. Alguns “alienigenistas admitem a confecção estrangeira por navegadores gregos, hebreus, egípcios e fenícios aqui arribados acidental ou intencionalmente antes de Cabral. Outros ‘alienigenistas’ vão mais longe, argumentando que algumas inscrições expressam refinados conhecimentos astronômicos, os quais somente poderiam ter sido transmitidos por civilizações extraterrestres” (6).
No Brasil, a idéia de serem as inscrições rupestres encontradas no interior como o registro de navegadores oriundos de outras partes do globo, foi, inicialmente, levantada por Ladislau Netto, dire­tor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, ainda no início da segunda metade do século XIX.
Aquele pesquisador brasileiro afirmou que os símbolos dos ‘letreiros’ representavam vestígios deixados pelos fenícios, que aqui estiveram em épocas remotas. Inclusive, classificou como fenícia uma inscrição localizada na ‘Pedra da Gávea’, no Rio de Janeiro, apresentando uma tradução que relata o insucesso de uma viagem ao Brasil, promovida a mando do faraó Necao, do Egito.
Apoiado nas suposições de Ladislau Netto, o pesquisador austríaco Ludwig Schwennhagen, que esteve na Paraíba, em 1926, onde realizou pesquisas para esclarecimento das ins­crições rupestres aqui existentes. Schwennhagen é autor de uma polêmica ‘História antiga do Brasil’, onde “apresenta uma tradução do li­vro do historiador grego Tio­doro da Sicília, o divulgador dos périplos fenícios, afirmando que foram os fenícios os primeiros habitantes do Velho Mundo a descobrirem a América” (7).
Alguns adeptos dessa corrente, afirmam que os hebreus em épocas remotas, visitaram o Brasil e daqui levaram a madeira e o ouro necessários para a construção do Templo de Salomão. Para aquele autor, seria o Brasil o misterioso país de Ofir, descrito na Bíblia, no Livro dos Reis. Tais pesquisadores apóiam suas suposições nas semelhanças lingüísticas que existentes entre o idioma hebreu e alguns dialetos falados por tribos indígenas do interior do Amazonas, afirmando também que o vocábulo ‘Solimões’, que designa para do rio Amazonas, é uma corruptela da palavra ‘Salomão’, o grande rei dos hebreus.
Por outro lado, os ‘alienigenistas’ chegam a afirmar que os registros rupestres em pictografia, representam registros astronômicos, executados por seres extraterrestres. Na concepção de Francisco C. Pessoa Faria (Os astrônomos pré-históricos do Ingá, 1994), a Pedra do Ingá, famoso monumento arqueológico encontrado no Estado da Paraíba, são registros astronômicos, produzidos por seres extraterrestres.
Quanto aos autoctonistas, estes se dividem em duas correntes: a primeira (já desautorizada) pregava ser a arte rupestre passatempo dos aborígines. A segunda, acredita ter florescido no Brasil uma antiqüíssima civilização aborígine que declinara após ter atingindo elevado estágio cultural e material.
A população interiorana do Nordeste brasileiro refere-se às inscrições rupestres co­mo sendo ‘letras dos holandeses’. No entanto, deve registrar que existem sítios arqueológicos com inscrições e pinturas rupestres em locais nunca atingidos pelos holandeses, no Brasil. E, que datam de 1598, as primei­ras informações sobre a exis­tência de inscrições e pinturas rupestres em solo brasileiro, portanto, muito an­tes da penetração dos flamengos no Nordeste.

A ARTE RUPESTRE NA PARAÍBA

O Estado da Paraíba, localizado na porção leste do Nordeste brasileiro, é pródigo em sítios de arte rupestre, predominando os de pinturas. Estas são encontradas, em sua maioria, nas paredes rochosas de canyons - localmente chamados de boqueirões, e em paredes e tetos de abrigos ou cavernas.
Estima-se que existam mais de 500 sítios com arte rupestre na Paraíba. Entre os principais, podem ser citados: a Pedra do Touro; a Pedra do Gato; a Pedra da Velha Chica; a Gruta do Silêncio; o Abrigo das Emas; a Pedra do Ingá e o Lajedo de Pai Mateus.
A maioria desses sítios arqueológicos apresenta registros rupestres (gravuras e pinturas) estampados em paredões rochosos, distribuídos nos leitos dos rios, vales e serras. Nesses locais, é comum encontrar representações zoomorfas antropomorfas, geométricas, astronômicas e fitomorfas.
Destes sítios arqueológicos, apenas a Pedra do Ingá, localizada no município de igual nome, foi tombada pelo DPHAN (o atual IPHAN), por iniciativa de Pereira Júnior, em 1944, o qual realizou um estudo ‘in loco’ daquelas inscrições rupestres.
O conhecimento sobre a existência de registros rupestres no interior da Paraíba é algo que remota ao final século XVI, conforme já foi citado. Além de Ambrósio Fernandes Brandão (Diálogos das Grandezas do Brasil, 1618), Elias Herckmans (Descrição geral da Capitania da Paraíba, 1639), também fez referência a um sítio arqueológico por ele encontrado, quando de uma entrada ao interior da Capitania com o objetivo de avaliar os recursos naturais da região de Cupaoba.
Anos mais tarde, em 1670, os padres capuchinhos franceses Teodoro de Lucé e Martim de Nantes, em missão catequista, dirigiam-se ao arraial de Boqueirão do Carnoió, quando, no caminho, encontraram “no meio de uma grande floresta [...] uma grande pedra de grã da altura de nove pés, larga na base, muito bem talhada, sobre a qual estava gravada a imagem de uma cruz de alto a baixo e na parte inferior havia um globo, ao lado de duas figuras que não podiam ser distinguidas por causa do musgo e, em derredor, uma espécie de rosário gravado” (8).
O sítio arqueológico descoberto pelo padre Teodoro de Lucé e seu auxiliar encontra-se no território do atual município de Barra de Santana, desmembrado de Boqueirão, em 1994. Trata-se da ‘Pedra do Altar’, localizada à margem direita do rio Paraíba.
Além dos caracteres descritos pelo padre Martin de Nantes, ali várias outras inscrições e pinturas, que constituem belo painel em cor vermelha, todo ele da mesma tonalidade, relativamente bem conservado. Naquele imenso macacão também existe um símbolo abstrato de uns 66 cm de comprimento, além de várias representações de ponteado, setas, mãos positivas e lagartos.
No entanto, analisando a narrativa do padre Martin de Nantes, percebe-se que aquele religioso somente viu no referido sítio elemento religioso, e, utilizou-se dos mesmos para iniciar a conversão dos nativos que faziam parte da referida expedição, atribuindo às mencionadas inscrições uma conotação profética.
As inscrições e pinturas rupestres existentes no interior do Estado da Paraíba, “expressam, sem dúvidas, sentimentos, idéias de um povo que ali habitou. É uma página da nossa pré-história, que como outras inscrições brasileiras, se decifradas, poderão nos oferecer noções exatas sobre a origem ainda desconhecida do homem americano” (9).
Quanto o elemento colonizador adentrou os sertões paraibanos ele foi encontrando vestígios rupestres. Às vezes, quando do requerimento de uma sesmaria, os colonizadores faziam referências a esses vestígios.
Assim fizeram o padre Valetim Gonçalves de Medeiros e Manoel Timóteo da Vera Cruz, que em 21 de janeiro de 1759, requereram uma gleba de terra no Seridó paraibano, alegando que a mesma ficava na data da ‘Pedra Lavrada’, numa referência expressa às pinturas rupestres que existem nas proximidades da sede daquele município paraibano. Ademais, “as inscrições de Pedra Lavrada foram descobertas no final do século XVIII, pelos primeiros desbravadores que ali apontaram, em busca de terras propícias à lavoura e à criação de gado. Na época, a ribeira do Seridó já se destacava por sua fertilidade, servindo de estímulo à fixação do homem naquela região. Os blocos de gneiss cobertos de símbolos dos mais variados formatos, serviram como fonte toponomástica, fazendo com que os primeiros povoadores da região batizassem o lugar com o nome de Pedra Lavrada” (10).
Em diversos municípios paraibanos onde existem vestígios da arte rupestre freqüentemente os habitantes locais associam tais registros à localidade onde os mesmos são encontrados. Assim, no interior da Paraíba é comum o uso de topônimos como ‘Pedra do Letreiro’, ‘Lajes Pintadas’, ‘Pedra Lavrada’, ‘Pedra do Caboclo’, ‘Pedra Furada’, ‘Lajedo Pintado’, etc.
Em 1893, lrineu Jofilly em seu valioso livro ‘Notas Sobre a Paraíba’, abriu um parêntese para tratar das inscrições e pinturas rupestres, existentes no território paraibano, afirmando: “Julgamos merecer a mais séria atenção de todos os homens estudiosos, o assunto de que passamos a nos ocupar, referimo-nos aos letreiros ou inscrições que encontram em grande número de rochedos em toda a Borborema, ou antes, em toda a Paraíba” (11).
Para fundamentar seu relato, aquele ilustre historiador paraibano utilizou-se das anotações de um relatório escrito pelo engenheiro Francisco Soares Retumba que, em 1886, visitou a povoação de Pedra Lavrada (12), no Seridó paraibano. Após copiar integralmente as inscrições ali existentes, aquele engenheiro concluiu: “ignoro se haverá quem possa compreender o que significam as inscrições [...]. Cumpre, pois, quanto à Paraíba, que se cuide seriamente de colecionar todas as inscrições que se encontram a miude em nossos sertões” (13).
Embora alguns estudiosos - ditos ‘alienigenistas’ - tentem relacionar os registros rupestres existentes no interior do nordeste brasileiro aos fenícios, “até aqui, os achados arqueológicos não revelaram vestígios da passagem de fenícios pelo Brasil. E se quisesse sustentar a tese de fenícios como povoadores do continente americano, as dificuldades seriam maiores uma vez que o período áureo da história daquele povo situa-se no tempo compreendido entre os séculos X e VII a.C. e em datas muitíssimo anteriores, já foi registrada a presença do Homem em nosso continente” (14).
Desta forma, deve-se afastar por completo a idéia de serem os fenícios ou outros povos (europeus ou asiáticos) os autores das inscrições rupestres encontradas no território brasileiro - e em especial, na Paraíba - aceitando-se como verdadeiro que seus principais executores foram os indígenas, que viveram em épocas remotas.
Deve-se reconhecer que as suposições e conclusões de alguns pesquisadores, já emprestaram ao estudo das inscrições rupestres existentes na Paraíba, uma importância capital, excluindo afirmações superficiais, segundo as quais tais registros arqueológicos não passariam de meras brincadeiras de índios. No entanto,
Todas as inscrições rupestres existentes na Paraíba, “guardam as mesmas características, os mesmos traços de origem como se representassem elos de um só circulo de influência”. E, que “não há dúvida que existe uma inter-relação dessa escrita nos diversos lugares onde teria predominado uma civilização antiga” (15).
No entanto, boa parte do patrimônio arqueológico existente no Estado da Paraíba vem se perdendo ao longo do tempo, em decorrência da depredação do homem. Deve-se registrar que muitos vestígios rupestres foram destruídos, por ignorância ou conveniência. Alguns, para dar lugar a construções ou para o amanho das terras.
Na Paraíba, inúmeros sítios arqueológicos estão sob ameaça de depredação constante, ligadas ao garimpo/mineração de rochas ornamentais, atividade econômica forte em alguns municípios, a exemplo de Pedra Lavrada, Junco do Seridó e Picuí (possuidores de sítios arqueológicos com arte rupestre), e a visitação turística, problema reforçado pela ausência de trabalhos que mostrem à população local a importância dos sítios existentes.
Dos diversos fatores de degradação que podem incidir sobre os painéis de pinturas e inscrições rupestres, a ação humana se destaca como forte agente de destruição. Por outro lado, deve-se registrar que o trabalho de conscientização junto às populações interioranas é algo fundamental para a preservação dos sítios arqueológicos.
Na Paraíba esse trabalho vem sendo desenvolvido por uma organização não-governamental, denominada de Programa de Conscientização Arqueológica (PROCA), que, desde 1995 vem contribuindo com as instituições oficiais a manter o patrimônio arqueológico preservado. Essa organização interage através da conscientização, desenvolve cursos, palestras, seminários, bem como o levantamento de sítios arqueológicos em todo território paraibano.

AS REPRESENTAÇÕES RUPESTRES DO MUNICÍPIO DE CONDADO-PB

O território que atualmente constitui o município de Condado foi desmembrado do município de Pombal, considerado rico em registros rupestres. A noroeste da referida cidade, nas serras do Comissário e do Cabeço, existem vários pontos onde podem ser encontradas pinturas e inscrições sobre a rocha dura.
Em Condado, até o presente foi encontrado um sítio arqueológico, localizado na comunidade Algodão, de propriedade dos herdeiros de Antônio Machados de Oliveira, distante 12 quilometros da sede do referido município.

Nesse sítio, identificam-se desenhos geométricos integrantes de uma tradição cosmológica que parece ser a mais antiga das três existentes na América, associados ou não a representações pictóricas da fauna e flora pleistocênica e que algumas dessas pinturas podem ter idades em torno de 18mil e 30mil anos.

No passado remoto, o Vale do Piranhas tinha muita água e uma vegetação que parecia com a de uma floresta tropical, habitado gigantescos dinossauros. Em 1920, no município paraibano de Sousa, apresentaram ao cientista Luciano Jacques de Moraes uma trilha de pegadas petrificadas, que foram identificadas por aquele pesquisador como sendo de dinossauros.

O sítio está localizado na margem esquerda do riacho Cipó, sobre um grande bloco de pedras, medindo em forma diagonal 200m de comprimento por 75m de largura, apresentando, em seu ponto máximo, uma altura de aproximadamente 20 m. A vegetação e o relevo do local onde se localiza o sítio se mostra característico do sertão paraibano. As gravuras foram feitas sobre blocos de rochas que, muitas vezes, se encontram bastante desgastados pelo intemperismo que é comum na região. O local onde se encontram os painéis é de fácil acesso.

O sítio apresenta-se com gravuras em motivos geométricos lineares e circulares, com interferência atual nas gravações (ação antrópica), e com as gravuras que se limitam à região do córtex da rocha. Há vários locais em que o sol e a chuva agiram diretamente sobre a rocha, pois eles se encontram a céu aberto, fazendo com que as camadas superficiais destas rochas estejam prejudicadas, favorecendo a ação da erosão nas gravuras, aumentando o seu desgaste.


As gravações foram executadas sobre um lajedo granítico coberto por um tipo de fungo que, em alguns pontos, dá umas colorações douradas, distribuídas horizontalmente. No sítio arqueológico da localidade Algodões existem algumas representações que possivelmente caracterizem pegadas de aves. Nota-se também a predominância de círculos concêntricos, produzindo a partir de sulcos profundos e delineados. As técnicas utilizadas para a execução das gravuras foram o picoteamento e polimento; o tamanho das gravuras varia entre 10 a 60 cm.


No entanto, observou-se, que, em alguns pontos, o aspecto original das inscrições foi alterado pela ação do homem moderno, que utilizando de dinamite, removeu considerável parcela dos vestígios. Entretanto, no todo, a conservação é regular, sendo que muitas gravuras já foram danificadas pelo intemperismo por ficar totalmente exposto ao sol e à chuva, apresentando, em alguns pontos, processo de descamação.


As inscrições rupestres de Condado são envoltas em um misto de mistério e fascinação. Apesar da importância do sítio, nunca foi publicado nenhum estudo sistemático. Contudo, existem algumas referências sobre algumas publicações voltadas para a história do sertão paraibano, nas quais esses registros arqueológicos aparecem como simples ‘curiosidades’. No entanto, “a simetria e a combinação desses sinais não podem ser lançados ao acaso; elas exprimem com certeza pensamentos humanos; são monumentos escritos de uma raça que ali habitou” (16).


No sítio Algodões, vândalos deixaram suas marcas, com incisões alfanuméricas, comprometendo a integridade dos registros rupestres. Desta forma, urge que sejam tomadas providências visando à preservação daquele sítio. Pois, a perda daqueles registros rupestres implicaria em lacunas em relação ao estudo da pré-história local, prejudicando, de certa forma, a construção da história do Sertão paraibano.


NOTAS
1. ALMEIDA, Ruth Trindade de. A arte rupestre nos cariris velhos. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1979, p. 21.
2. SANTOS, José Ozildo dos. As inscrições rupestres de Pedra Lavrada. In: Revista Tudo, Campina Grande-PB, edição de domingo, 16 de dezembro de 1990, p. 11.
3. ALMEIDA, Ruth Trindade de. Op. cit., p. 23.
4. GASPAR, M. A arte rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 2.
5. OLIVEIRA, L. D. de. A arte rupestre no Rio Grande do Sul: Semiótica e Estereoscopia. In: Fumdhamentos VII, Porto Alegre, abril 2005, UFRS, p. 471.
6. FARIA, F. C. P. Os astrônomos pré-históricos do Ingá. São Paulo: IBRASA, 1994, p. 44.
7. SANTOS, José Ozildo dos. Op. cit., pág. 11.
8. NANTES, Martin de. Relação de uma missão no rio São Francisco. São Paulo: Nacional/INL, 1979, p. 54.
9. SANTOS, José Ozildo dos. Op. cit., pág. 11.
10. Idem, idem.
11. JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Fac-símile da primeira edição publicada no Rio de Janeiro, em 1892, com prefácio de Capistrano de Abreu. Apresentação e observações de Geraldo Irenêo Joffily. Brasília: Thesaurus Editora, 1977, p. 88.
12. As inscrições de Pedra Lavrada, no Seridó paraibano, foram muitas vezes confundidas com a Pedra de Ingá, localizada nas proximidades da cidade de Campina Grande. Hoje, lamentavelmente aquelas inscrições encontram-se submersas pelas águas de um açude que abastece o município.
13. JOFILLY, Irineu. Op. cit., p. 89.
14 ALMEIDA, Ruth Trindade de. Op. cit., p. 29.
15. LIMA, Clóvis. ‘As itacoatiaras de Ingá’. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, v. 12, João Pessoa: Editora Teone, 1953, p. 114.
16. JOFILLY, Irineu. Op. cit., p. 88.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GALDINO, Luís. ‘Eram os índios astrônomos?’ In: Revista Planeta, n. 12. São Paulo, 1973.
GASPAR, M. A arte rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
HERCKMANS, Elias. Descrição Geral da Capitania da Paraíba. João Pessoa: A União Editora SA, 1982.
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